top of page

ARTAUD

Antoine Marie Joseph Artaud
04/09/1896 – 04/03/1948

Houve muita influência da Grécia em sua vida por causa das duas avós-irmãs gregas. A sua maneira de pronunciar certas vogais e seu estilo brilhante de atuar, tanto no teatro como em filmes possivelmente tem um substrato neste viés.

 

Na infância era conhecido pelo apelido derivado do diminutivo grego de seu nome cristão: Antonaki Û NANAQUI. Em seus internamentos, quando negava sua identidade, nunca deixou de ser NANAQUI, para si mesmo.

Antonin Artaud

1896: Nasceu em Marselha, em 04 de setembro às oito horas da manhã, na Rue Jardin des Plantes. Pertencia a uma família rica, a mãe, Euphrasie Nalpas, era de origem grega. Os pais eram primos, suas duas avós eram irmãs. O pai, Antoine Roi Artaud, era um armador francês, cujo meio de vida consistia em fretar navios para o comércio no mediterrâneo oriental.

Constantemente durante a infância e adolescência, Artaud viajava para a Grécia, em companhia de sua mãe. Iam visitar sua avó materna, Mariette Nalpas, a quem ele tinha enorme afeição. Ela lhe deu o codinome “Nanaqui”, diminutivo grego de seu nome cristão Antonaki, com o qual se denominaria, anos mais tarde durante suas crises, nos vários hospitais psiquiátricos onde esteve internado.

Artaud teve uma história de vida bastante conturbada. Desde tenra idade, quando criança, apresentava fortes dores de cabeça.

1901: Com cinco anos de idade, lhe foi conferido o diagnóstico

de ser portador de meningite e, daí em diante, começou a tomar medicamentos cotidianamente por causa das seqüelas da doença.

Na juventude, aos quatorze anos, começou a usar  ópio para aliviar as dores de cabeça, este fato lhe causou dependência da droga durante toda sua vida.

1905: Aos nove anos de idade teve o primeiro contato direto com a morte, fato que o perturbou bastante. Foi quando aconteceu a morte prematura, em 21 de agosto, da sua irmã Germaine, com sete meses de idade, nascida em 13 de janeiro.

Durante a pré-adolescência, Artaud já anunciava o poeta que se tornaria. Escrevia muito, porém não demonstrava ainda o desejo de atuar.

1910: Com quatorze anos, publicou no Collège du Sacré-Cœur, uma revista contendo poemas seus, sob o pseudônimo de Louis des Attides.

1915: Aos dezenove anos foi internado pela primeira vez em um sanatório perto de Marselha, em La Rougière, acometido por uma austera crise de depressão, momento em que se desfez dos seus livros e destruiu tudo o que havia escrito. Iniciou-se a série de internações que pontuariam sua vida. Dos vinte aos vinte e dois anos, passa por uma série de sanatórios e estações de cura.

 

1919: No mês de maio, inicia o tratamento com láudano, um medicamento à base de ópio, ligado a outros ingredientes, com o intuito de aliviar as suas freqüentes e intensas dores na cabeça.

 

1920: Foi para Paris tentar um tratamento com o Dr. Edouard Toulouse. A revista literária Demain era publicada por este médico, e Artaud, em agosto de 1920, com vinte e quatro anos, publica um poema e um artigo na revista.

1921: Tornou-se ator, aos vinte e cinco anos, estreando em dezessete de fevereiro, um papel pequeno e sem texto, da peça Les Scrupules de Sganarelle, de Henri de Régnier, no Théâtre de l´Œuvre.

Em outubro, seu tio Louis Nalpas, diretor artístico da Societé des Cinéromans lhe conseguiu uma entrevista com Firmin Gémier, este o aconselhou a trabalhar com Charles Dullin no Théâtre de l'Atelier. Dullin o influenciou e incitou-o profundamente a conhecer mais o teatro oriental, sendo de certa forma também responsável pela paixão de Artaud pelo teatro do oriente. Como ator de cinema fez sucesso e sua atuação era impressionante, o que deixou seu tio, Louis Nalpas, bastante satisfeito.

No final do outono, com vinte e cinco anos, conheceu a atriz Genica Athanasiou (1897-1966), por quem se apaixonou e manteve um romance não muito feliz.

 

1921-1934: Artaud participa como ator de aproximadamente 18 peças teatrais e 20 filmes, com locações na Itália e também na Bretanha.

 

1924: Aproximou-se do movimento surrealista, sendo responsável pela edição da Revista Surrealista.

1926: No final de novembro saiu do movimento por questões políticas, pois os surrealistas se aproximaram das idéias marxistas. Idealizou com Roger Vitrac, também presente no movimento surrealista, um teatro de vanguarda, com concepção surrealista, utilização ampla do fantástico, do grotesco, do sonho e da obsessão. Juntos, fundaram o Théatre Alfred Jarry.

Em novembro é publicado o Primeiro Manifesto do Teatro Alfred Jarry, na Nouvelle Revue Française.

 

1927: Com 31 anos de idade faz o papel de Marat, no filme Napoléon, de Abel Gance. Nos dias 01 e 02 de junho, foram apresentados os primeiros espetáculos do Teatro Alfred Jarry, no Teatro de Grenelle: Le Ventre Brulé, de Artaud, Gigogne, de Robert Aron e Les Mystères de l’amour de Vitrac. Ainda em junho desempenhou o papel de monge no filme La Passion de Jeanne d'Arc. Em outubro, participou do filme Verdun, visions d’histoire, de Léon Poirier. Em novembro, o roteiro do filme de Artaud, La Coquille et le Clergyman, foi publicado na Nouvelle Revue Française. Neste mesmo ano iniciou um tratamento com o Dr. René Allendy. Sua esposa, Madame Allendy, financiava o Teatro Alfred Jarry. Em dezembro visitou Cannes.

1928: No dia 14 de janeiro, aconteceu a segunda produção do Teatro Alfred Jarry, na Commédie des Champs-Elysées: o filme A Mãe, de Pudvkin e um ato da peça Partage de Midi, de Claudel. Em 18 de fevereiro, estreou o filme La Coquille et le Clergyman, sob direção de Germaine Dulac, no Studio des Ursulines. Artaud e Desnos avaliaram que a diretora interpretou mal o roteiro e criaram um tumulto.

Em 22 de março, Artaud fez uma palestra na Sorbonne. A terceira produção do Teatro Afred Jarry, Le Songe, de Strimberg, deu-se nos dias dois e nove de junho, no

Teatro Avenida.

Os surrealistas provocaram tumultos, principalmente, André Breton.

Artaud participou da filmagem de L’ Argent, baseado em Zola, de Marcel L’Herbier. E nos dias 24 e 29 de dezembro, sucede- se a quarta e última produção do Teatro Alfred Jarry, na Comédie des Champs-Elysées: Victor, de Roger Vitrac, com brilhante direção de Antonin Artaud.

1929: No dia 05 de janeiro, ocorre a terceira apresentação de Victor. Entre fevereiro e abril Antonin Artaud participou das filmagens de Tarakanova, nos estúdios Nice, com direção de Raymond Bernard. Em 17 de abril A Arte e a Morte, é publicado por Denoel.

1930: Com 34 anos, nos meses de julho, agosto e outubro, permaneceu em Berlim para gravar filmes, principalmente a versão de Pabst, de A Ópera dos Três Vinténs de Bertolt Brecht (1898- 1956).

1931: De janeiro a março participou das gravações de Faubourg Montmartre, de Raymond Bernard.

Realizou a filmagem La Femme d'une nuit, com direção de Marcel L’Herbier, e também gravou Les Croix, baseado no romance de Dorgèles, com direção de Raymond Bernard.

Em julho assistiu, por acaso, um espetáculo das danças de Bali, na Exposição Colonial, no Bois des Vincennes. Ficou bastante impressionado e o espetáculo permeou seu pensamento sobre o teatro, criando  o Teatro da Crueldade.

No dia 10 de dezembro, Artaud realizou uma palestra sobre A Encenação e a Metafísica, na Sorbonne.

1932: Publicação do primeiro manifesto do Teatro da Crueldade, na Nouvelle Revue Française.

No mês de fevereiro, foi publicada A Encenação e a Metafísica na Nouvelle Revue Française. Nos meses de fevereiro e março trabalhou como assistente de Louis Jouvet na produção de La Patissière du Village, de Alfred Savoir. Nos meses de abril e maio, foi para Berlim filmar Coup de Feu à l’Aube, sob direção de Serge de Poligny. Neste mesmo ano fez uma adaptação de Thyestes, de Sêneca. Em dezembro internou-se no hospital novamente.

1933: Em março iniciou uma amizade com Anaïs Nin. Em abril terminou Heliogábalo. No dia 06 de abril proferiu uma palestra na Sorbonne sobre O Teatro e a Peste.

Escreveu o Segundo Manifesto do Teatro da Crueldade, onde reafirma e esclarece as idéias anunciadas no Primeiro Manifesto.

 

1934: Heliogábalo é publicado. Artaud vai para a Argélia gravar Sidonie Panache, com direção de Henri Wullschleger. Filma Liliom, direção de Fritz Lang; Koenigsmarck, direção de Marcel Tourneur; Lucrecia Borgia, no papel de Savonarola sob direção de Abel Gance. É publicado O Teatro e a Peste na Nouvelle Revue Française.

1935: Em fevereiro Artaud realizou a leitura do seu manuscrito Les Cenci, na casa de Jean-Marie Conty. Em seis de maio estreou Les Cenci e no dia 22 de maio realizou sua última apresentação.

Conheceu Cécile Scharamme, com quem noivaria no próximo ano.

1936: Saiu de Paris com destino a Antuérpia no dia 09 de janeiro, no dia seguinte embarcou no navio Albertville; aportando em Havana no dia 30 de janeiro. No dia 07 de fevereiro desembarcou em Vera Cruz, no México. Em abril, saiu da cidade do México em direção a Serra Tarahumara. Foi embora do México no dia 31 de outubro.

1937: Em março, iniciou em Paris, um tratamento para desintoxicação. Em maio visitou Bruxelas, e no dia 18 de maio fez uma conferência em Bruxelas, muito conturbada. No dia primeiro de agosto foi publicado, sem nome de autor, o livro Viagem ao País do Tarahumaras, pela Nouvelle Revue Française.

No dia 14 de agosto chegou em Cobh, na Irlanda. No dia 08 de setembro foi para Dublin. Em 30 de setembro chegou ao Havre, no vapor Washington, com voz de prisão e em camisa de força, foi entregue às autoridades francesas. O motivo foi terem entrado funcionários, em seus aposentos no navio, portando ferramentas para arrumar um vazamento, Artaud os agrediu pensando que iriam investir contra ele.

Rompeu o noivado com Cécile Schramme.

 

1938: Foi publicado em 07 de fevereiro o seu livro O Teatro e Seu Duplo. No dia 12 de abril foi para o hospício de Sain-Anne, em Paris. Em dezembro mudou-se para o hospício de Quatre-Mares, em Soteville-les-Rouen.

1939: Foi transferido para o asilo de Ville-Evrard em 27 de fevereiro. Era o início da Segunda Guerra Mundial, a alimentação nos Manicômios foi racionada, Artaud emagreceu e envelheceu muito. 1943: Em 22 de janeiro deixou o asilo de Ville-Evrard e se transferiu temporariamente para o asilo rural de Chézal-Benoit. No dia 11 de fevereiro foi para o asilo de Rodez (Aveyron), sob os cuidados de Gaston Ferdiere. Durante o período que esteve no hospital de Rodez escreveu diariamente cartas endereçadas ao Dr. Ferdiere. Uma correspondência que teve início em 12 de fevereiro de 1943 e terminou em 25 maio de 1946.

1944: Foi reeditado o seu livro O Teatro e Seu Duplo em 10 de maio. 1945: No dia 25 de novembro foi publicado o seu livro No País dos Tarahumaras.

1946: Permitiram-lhe sair do hospital de Rodez, para passear nas vizinhanças. Retornou a Paris em 26 de maio, passando a residir no hospital para doentes mentais, do Dr. Delmas, em Ivry, como voluntário. No dia 06 de junho efetivou-se uma vernissage de artistas que doaram obras com a finalidade de obter recursos financeiros para Antonin Artaud, na Galeria Pierre, dirigida por Pierre Loeb, em 07 de junho foi encenado um espetáculo com a mesma finalidade no Teatro Sarah Bernhardt.

1947: Artaud participou da leitura de poesias no Vieux Colombier em 13 de janeiro e visitou a exposição de Van Gogh, na Orangerie. No dia 19 de julho aconteceu uma exposição dos desenhos de Artaud na Galeria Pierre, com leituras de suas poesias. Em 15 de setembro foi lançado o livro Artaud, O Momo. Em 25 de setembro foi lançado seu livro Van Gogh o Suicidado da Sociedade.

Principiam-se, em novembro as preparações e a gravação, entre os dias 22 e 29, do texto de Artaud intitulado Para Acabar de Vez Com o Juízo de Deus.

 

1948: A data marcada para ir ao ar a gravação, foi 16 de janeiro, porém o programa foi cancelado na véspera pelo diretor geral da rádio-difusão francesa, Wladimir Porché, o que causou o pedido de demissão do diretor das emissões dramáticas, Fernand Pouey.

A vida de Antonin Artaud teve fim no dia 04 março, aos 51 anos. Artaud foi encontrado morto, sentado ao pé da cama, com um pé de sapato calçado e o outro na mão; em seu quarto no hospital de Ivry-Sur-Seine, pelo jardineiro que o levava para tomar café e passear todas as manhãs. As versões para sua morte são:

  1. ingestão acidental excessiva, para aliviar dores, da drogacloral, uma droga sintética, precursora dos barbitúricos, quereproduzia os efeitos do ópio e da morfina,

  2. causandodependência,aoseringeridaemdoseselevadaspodeprovocaramorte;

  3. Ingestão excessiva proposital da mesma droga com a finalidade do suicidio.

  4. Morte provocada por um cãncer no anus.

 

Foi sepultado sem ritos religiosos em oito de março no cemitério de Ivry.

Referências

SALLES, Nara. Sentidos: uma instauração cênica – Processos Criativos a Partir da Poética de Antonin Artaud. 2004. 200 f. Tese (Doutorado em Teatro) – Escola de Teatro, Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.

bottom of page